quarta-feira, 10 de março de 2010


Se o sobrenome ainda causa estranhamento, o rosto de Armando Babaioff torna-se, a cada trabalho, mais conhecido pelo público. Para isso, o ator não mede esforços. Recentemente, ele participou das montagens de O santo e a porca, de Ariano Suassuna, Gota d'água (na temporada em Portugal), de Chico Buarque e Paulo Pontes, e Na solidão dos campos de algodão, de Bernard-Marie Koltès – lançando-se, nesta última, como produtor ao lado de Gustavo Vaz. No começo de 2010, voltou aos palcos em RockAntygona, encenação realizada a partir de uma apropriação da tragédia de Sófocles, atualmente em cartaz no Mezanino do Espaço Sesc. Sem aparentar cansaço, garante que não pretende diminuir o ritmo.

– Minha avó paterna era judia, frequentava centro espírita e jogava flor para Iemanjá. Minha mãe é católica e meu pai, judeu, mas devoto de Nossa Senhora Aparecida. Fui batizado no candomblé – conta Babaioff, que frequenta, ocasionalmente, a sinagoga e faz jejum no Dia do Perdão, o Yom Kippur. – Diante desta mistura toda, dá para se aborrecer com algo?

Ao invés de se aborrecer, Babaioff prefere aproveitar as oportunidades. O convite para interpretar Hémon em RockAntygona, sob a direção de Guilherme Leme, surgiu num intervalo após o término da temporada carioca de Na solidão dos campos de algodão (espetáculo já confirmado na grade da próxima edição do festival Porto Alegre em Cena).

– Em RockAntygona trabalhei a voz antes do corpo, o que é raro para mim. De qualquer modo, tinha noção do corpo de um personagem que descende de uma linhagem real, que propõe o caminho do meio, nem condenando o pai, nem Antígona – observa o ator.

Babaioff também retomou o curso de licenciatura na UniRio e participou de A história de um valente, filme de Cláudio Barroso centrado na trajetória de Gregório Bezerra. Como se não bastasse, aguarda o início das gravações do remake de Ti ti ti, a cargo de Maria Adelaide Amaral, próxima novela das sete da TV Globo. Mas, afirma, ainda guarda na memória cada palavra do caudaloso texto de Koltès, trabalho que remete ao período em que cursou a escola de teatro Martins Pena, entre 2000 e 2002.

– Eu e Gustavo nos conhecemos na Martins Pena e sempre ficamos à mercê do mercado. Até que resolvemos correr atrás de um texto. Nós nos deparamos com Na solidão dos campos de algodão. Compramos os direitos. Pensei, então, em chamar Caco Ciocler para dirigir. Ele aceitou, mesmo sem nunca ter me visto no palco – relembra Babaioff.

O ator não passou impune pela experiência. E não "apenas" pelo desafio de fazer um espetáculo ao ar livre, de quarta a domingo, durante o qual tinha de se equilibrar sobre cinco gangorras, elementos principais da cenografia de Bia Junqueira.

– O personagem tem medo de desejar e dificuldade de se expressar. As fraquezas expostas são bem reais, próximas das minhas incertezas em relação à vida – assume.

Também existe muito de Armando Babaioff – natural do m Recife, mas radicado no Rio desde os sete anos – no Dodô de O santo e a porca, de Suassuna, em versão assinada por João Fonseca.

– João diz que quando fico nervoso o sotaque nordestino vem à tona. Minha identidade cultural é de lá – sublinha.

A parceria com Fonseca rendeu outro mergulho na brasilidade em Gota d'água, montagem em que interpretou Jasão na viagem a Portugal.

– Babaioff é um ator disciplinado, que surpreende. Em O santo e a porca desconstruiu a própria imagem ao interpretar um personagem que se finge de feio. Em Gota d'água fez Jasão sem contar com o tempo de preparação do processo. É um dos melhores atores jovens que conheço – destaca João Fonseca.

Foi na montagem de Miguel Falabella para A primeira noite de um homem que Babaioff despontou publicamente. Para conseguir o papel, o ator competiu com 300 candidatos.

– Na época estava na Martins Pena pensando em conhecer o mundo. Queria ir para o exterior trabalhar. Até que um amigo ligou e disse que Falabella tinha acabado de abrir testes para uma peça. Mandei currículo e fotos. Na hora do teste falei um texto de Roberto Zucco – evoca o ator, referindo-se à outra peça de Koltès. – Miguel interrompeu no meio. Perguntou quando eu ia tirar o aparelho dos dentes. Disse que poderia tirar no dia seguinte, se quisessem. Fui passando de fase em fase, até que me eliminaram. Mas voltaram atrás.

O espetáculo foi, sem dúvida, um divisor de águas em sua carreira:

– Falabella me deu segurança durante os ensaios, eu precisava de autoestima. Entramos e saímos da escola sabendo que somos só mais um no mercado.

O trabalho em A primeira noite de um homem rendeu um convite para ingressar na Oficina de Atores da Globo.

– Nunca corri atrás da TV. Mas é um veículo sedutor. Fiz muitos testes, não passei em vários, até que ligaram dizendo que eu iria participar de uma novela de Manoel Carlos – relata Armando Babaioff, referindo-se a Páginas da vida. – Ganhei um personagem de composição, um pitboy. Fiz seis meses de jiu jitsu com um professor particular. Também passei a frequentar boates da moda. Adoro esta imersão.

Nessa época, Babaioff já tinha experiência acumulada em companhias de teatro, como a Bicho de Porco e a Quantum, na qual participou de montagens como A fábula da casa das mulheres sem homens e Quietude, ambas dirigidas por Rodrigo Portella.

– Ia às redações de jornal entregar material dos espetáculos da Quantum. Depois ligava de um orelhão e dizia: "sou Armando Babaioff e pedi para um boy deixar o material de uma peça. Vocês receberam?"

Diante de tantas dificuldades, o ator não esmoreceu.

– Sou confiante, tenho pequenas certezas. Fiz tudo o que tive vontade. Não planejo nada. Só a aposentadoria – garante.